Despejar óleo de cozinha na pia é um problema sério, mas quando este ato inconsequente acontece em cidades litorâneas, a questão fica mais grave. Para quem acredita que o processo de descontaminação de praia ou até mesmo do sistema de esgoto de uma cidade turística é uma atividade fácil e barata, os números mostram outra realidade.
Vitor Dalcin, Diretor da Ambiental Santos, empresa especializada em reciclagem de óleo, explica que o processo de descontaminação de uma praia é uma tarefa complexa, cara e que, dependendo da extensão da área afetada, pode levar semanas ou meses para ser concluída:
“O óleo vegetal vai minando gradualmente as praias com impacto diferente de incidentes em que óleo é despejado em grandes quantidades de uma só vez, como no acidente envolvendo óleo mineral na praia de El Capitan State, na Califórnia, em 2015. Mas os procedimentos para limpar os estragos são os mesmos. Na época, foram gastos 62 milhões de dólares para limpar uma boa faixa da costa”.
Dependendo do tamanho da faixa atingida, da localização do derramamento, da taxa de liberação do óleo, de qual tipo de óleo e outros fatores, essa conta pode ser multiplicada.
O uso de dispersantes químicos quebra a química do óleo para futura remoção em águas superficiais, mas este procedimento tem um contraponto ruim: os elementos químicos são tóxicos para flora e fauna da vida aquática.
“Por acontecer lentamente na praia, diferente de um grande vazamento, o ideal é evitar que estas pequenas quantidades alcancem praias por meio de reciclagem adequada do óleo usado e sua correta destinação. O remédio para a limpeza é literalmente matar a flora e a fauna”.
Esgotos danificados também geram prejuízos para cidades com praias
Além da contaminação em praias, as redes de esgoto de cidades com temporadas de verão sofrem com o óleo vegetal. No Brasil, país cujo consumo anual chega a 3 bilhões de litros, grande parte do óleo usado é descartada incorretamente, na pia ou no vaso sanitário, e acaba na rede de esgoto das cidades. O resultado prático: enchentes.
No Rio de Janeiro, conhecida mundialmente pelas praias e turismo, a concessionária responsável pela coleta e tratamento de esgoto, a Águas do Rio, precisou consertar mais de 13 mil entupimentos em 2023. Em alguns casos, o problema foi tão grave que foi preciso quebrar o asfalto, abrir um buraco na calçada e substituir toda a tubulação:
“No Rio de Janeiro a mistura deste óleo com outros dejetos criou uma barreira sólida, com a mesma textura de uma pedra. Como não havia espaço na tubulação para o escoamento normal, a estrutura se rompeu.”
Nos últimos sete anos, para efeitos comparativos, o governo federal investiu quase 6 bilhões de reais em projetos de saneamento básico, com 833 milhões e média por ano, para implementar novas redes em locais que ainda não recebiam tratamento.
Usando este valor como base de custo e adicionando variáveis como mão de obra e serviços para romper tubulações danificadas, é possível entender o tamanho do prejuízo causado pelo óleo nas tubulações.